Sócrates e o professor
Era uma bela e ensolarada manhã de sexta-feira. Os alunos da oitava série da escola PATETICUS se encontravam na sala de aula assistindo às aulas do professor e diretor da escola chamado GOVERNUS.
Governus professor de história e ética discorria com fervor sobre a abolição da Escravidão no Brasil, explicando que os negros só se libertaram dos grilhões por pressão da Inglaterra que via nos negros um potencial mercado consumidor.
Ao mesmo tempo que o professor entusiasmado ministrava sua lição, no fundo da sala de aula o pequeno Sócrates dormia como uma criança gorda, era possível enxergar em sua testa a marca vermelha infligida pelo seu braço.
Governus imponente ao se deparar com tamanho desrespeito dirigiu num tom de repreensão a palavra a Sócrates:
- Moleque, acorde! Você por acaso não tem respeito nenhum pelo meu trabalho e pelo trabalho dos seus pais ou ainda pelo trabalho dos inúmeros contribuintes que pagam pela sua escola?!
- Desculpe-me, professor, não precisa se alterar. Ao contrário do que você pensa, considero sua profissão muito importante, assim como várias outras que existem no mercado de trabalho. No entanto – continuou Sócrates – hoje estou com muito sono e, como meu pai que trabalha em um Museu de História do Brasil já me explicou tudo o que você me vem falando há 4 anos de uma maneira muito mais clara e com uma riqueza de detalhes muito superior a sua, me permiti cochilar em sua palestra.
Governus, espantado com tamanha eloqüência, responde:
- Muito bem, Sócrates , então você está dispensado dessa e de todas as outras aulas que darei – e virando-se para os outros alunos – o restante continuará a assistir!
Sócrates não se dando por satisfeito, pergunta:
- Mas, professor, na sala existem diversos alunos que não se interessam por sua aula e você acha certo que somente eu tenha o direito de não assistir a sua aula, por que isso?
- Porque, como você próprio falou, essas pessoas apenas não se interessam pela aula e , ao contrário de você, não possuem o conhecimento necessário para serem dispensados.
-Não entendi muito bem professor, você está dizendo que é correto forçar um aluno contra sua vontade a ser aprovado em uma matéria que ele não se interessa?
-Primeiro, você não, me chame de senhor. Segundo, forçar, não é a palavra que eu usaria – disse o professor – mas considero que as matérias devam ser obrigatórias, pois todas têm o seu valor, o que acontece é que muitos de vocês são muito imaturos para reconhecer que cada uma delas pode ser fundamental em suas vidas.
- Concordo, todas as matérias possuem seu valor, não nego isso. Mas o valor é subjetivo, é determinado por cada indivíduo de acordo com uma ordem de prioridades. Assim, cada ciência tem seu valor sim, mas um valor diferente para cada aluno. E dado que existe o interesse e a propensão de cada um e o tempo para se adquirir conhecimento não é inesgotável, deve ser dada a liberdade de cada um escolher o que prefere, não? O senhor, por exemplo, acharia justo ser obrigado a ministrar aula de todas as matérias?
- Tudo bem garoto – disse o professor olhando para o relógio – o valor é subjetivo e eu não gostaria de ministrar aulas de todas as matérias, prefiro História, mas eu sou um adulto e utilizei o tempo de escola que tive para tomar a decisão de que faculdade eu gostaria de fazer, assim escolhi o que me interessava mais. Você está propondo, por um acaso, que simples alunos pulem degraus e vão direto a faculdade no momento que acharem que estão prontos?
- Não me interprete mal – respondeu Sócrates – sou contra arbitrariedades. Assim como sou contra você ter sido obrigado a cursar a faculdade de história e ter um diploma de nível superior para conseguir ser professor, eu sou contra todas as escolas serem obrigadas por lei a ter uma série de disciplinas obrigatórias, disciplinas essas que muitas vezes não vão de encontro nem ao interesse de nossos pais, muito menos dos nossos!
O professor cético e impaciente resolveu encerrar logo o assunto, pois já estava chegando ao fim da aula e estava ficando com fome. Perguntou, então, a Sócrates o que ele achava que devia ser feito. Sócrates, disse:
-Creio que nossas preferências devam ser respeitadas independente de nossas idades e que deva ser dada a liberdade aos educadores, aos nossos pais e a nós alunos escolhermos que disciplinas e que abordagem adotar nas escolas. Assim, os pais de Gauss apercebendo-se de que o filho tem uma propensão para a física e a matemática o matricularia em uma escola mais voltada para um ensino melhor e mais específico dessas ciências, o que tornaria o potencial de Gauss ainda maior.
Gauss, agradecido pela intervenção do colega, acenou para Sócrates, que continuou:
- No entanto, admito que nem todos têm um interesse específico tão pronunciado quanto Gauss. Assim, não proponho a extinção de escolas generalistas, proponho apenas que se finalmente entregue a nossos pais e a cada um de nós, quando optarmos por isso, o poder de decidir que escola vai melhor de encontro aos nossos interesses individuais. Desse modo, não tenho dúvida nenhuma disso, o aproveitamento será melhor e o índice de desistência das escolas será bem menor.
O professor, ouvindo essa proposta tão veemente, aceitou o desafio e permitiu aos alunos atenderem apenas as disciplinas que lhe aprouvessem. O resultado foi surpreendente. Com a presença de somente alunos interessados nas aulas, a média de todos os alunos subiu e nenhum aluno deixou de ir à escola, inclusive Joãozinho que continuou fazendo chacota com todos os professores e coleguinhas por não encontrar uma escola que levasse a sério seus dotes cômicos.
Por Johel Carvalho
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